É manhã, mais um dia que inicia
Será longo esse dia
Fatos do cotidiano, impuro talvez
Não, não obstante é essa vida
Vaga, iluminada, torpe tensa
Retratos de loucuras insaciáveis
Muitas delas bobas loucas extremosas
De tópicos exóticos sabores
Ah! Esse viver contínuo e relâmpago como luz ofuscante
Traduz toda falha dessa escultura
Essa vida não é mais como outras, andantes
Outras obras do tempo de elmos e belos castelos
Essa é como as abstratas
Mesclam ondas e ondas tontas
Giros alongados, loucos, alargados
O futurismo de cabeça alada virada
Mãos pés rostos sonhos sons
Queda...
Passos aqui passos largos rápidos tortos
Mil deles sob comando, parados, estáticos
Dedos telas teclas tons tantos tab
Cedo sono sonho sonso
Ruas roncos riscos trens carros
Na cabeça pressa, logo, lado atrás, atraso.
E o trabalho: tato tanto triste tenso tá.
Mais um dia quente de pé, sentado, fado...
E a vida vai...
Espreme-se delira deleita deita descansa mais e mais
Roda reclama ama chama
E vai...
E a vida vai
Renasce jubilosa entre farelos
Entre delírios e ais
Entre a boca triturante do tempo
O tempo de agora
O hoje: mesmo, igual, só, afora
A vida mostra sua força
Mostra sua fragilidade
Sempre se mostra
Aparece simples, suprema e bárbara
E diante os cacos da mesmice
A vida vai...
E vai a vida
A emoção acabou
Foi-se com a noite
A noite se esvaiu longe longe
Alívio ao nascer do sol?
Ou a tragédia de mais um dia?
O dia traz alegria, pesadelo, choro
Traz o mundo, traz a vida
A pena do seu nascer
O dia não é mais aquele
Aquele... aquele do fim do sol
Da noite passada, de ontem
É mais um, só mais um...
Mais um dia... um...
Apenas...
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