segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Lembrar (Valdomiro Maria)

No regresso dos pensamentos, nossa cabeça nos mostra rastos inconfundivelmente magníficos. A saudade se instala no peito, toma conta dos nossos olhos chorosos e nos faz, incontrolavelmente, reféns de nós mesmos numa agressividade delicada até, pois o coração de quem se sensibiliza pulsa de um jeito diferente, como se só batesse em função das lembranças.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Natureza

Natureza (Valdomiro Maria)

És tão bela, tão doce e meiga
Gestos singelos como de um passarinho
Voa em seu pensamento
De todo suavezinho

Olhas ao teu redor, vês,
Causaste o desabrochar das flores
E os simples sonhos
De teus amores.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Livre (Valdomiro Maria)

Livre (Valdomiro Maria)
O perfume que exala das rosas
O brilho de cada flor
E a chuva que cai renovas
O colorido do puro sabor

As gotas que escorrem por entre as pétalas
Tocam o chão
Secam e para as nuvens vão
Para dar mais vida à Natureza
E mais sonho ao coração

quarta-feira, 31 de agosto de 2011













Devaneios                                                                                                                                                                                           Valdomiro Maria

Carrego no rosto marcado
os estragos das horas,
da entrega do corpo e mente
ao caos dos acontecimentos

Desse semblante embebido de silêncio,
um detalhe põe à prova toda angústia:
ser mais um apenas, entre tantos.
Tantos descrentes da loucura,
da mágica de olhar diferente.

Distante de mim o além.
O após, o ângulo superior da visão,
do modo de ver, de sentir...
da maneira como a vida estanca
o sangramento da efervescência,
do grito, da apatia, da razão.

A vida assim vai, sobrevive ainda.
O controle corre riscos
de fugir à razão, ao certo,
pois a eloqüência vibrante e extrema
jorra em minha mente,
fazendo-me refém de mim mesmo,
e o pensamento ainda resiste,  não sei por que.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

… e lá vamos outra vez, sentimentos alados, debatendo-se insanos em pensamentos insuportáveis às formas mais primitivas e dúbias desses esmos impenetráveis da mente. E é nos sonhos que desabrocham essas perplexidades involuntárias do subconsciente. Despindo-se de toda volúpia corroborada de uma aridez ímpar e incontrolavelmente estranha.
Valdomiro Maria

terça-feira, 21 de junho de 2011

Dois dias

Dois dias
                                                                                                              Valdomiro Maria
            - Não quero mais trabalhar aqui.
            - Mas por que não? Há algo de errado com a empresa?
            - Errado? Não, com a empresa, não!
            - Então você não está contente com seu cargo?
            - Cargo? Não.
            - A empresa, a qual você trabalha a mais de quinze anos não te agrada mais?
            - Agrada? Não.
            - Pois então, por que não quer mais trabalhar conosco?
            - Conosco? Não!
            - Você só repete o que eu digo!
            - Repete? Não!
            - Não entendo você. Fale, abra-se, conte o que está havendo com você... Por que essa decisão? Estamos conversando a mais de cinco minutos e você não disse coisa com coisa. Está estressado? Cansado? Confuso? Triste? O quê?
            - Tudo isso? Não!
            - Que droga! Fale de uma vez, Paulo!
            - Tudo bem... É... Eu... Eu... Vou... Falar... É... Falar!
            Depois de tanto repetir o que o patrão perguntava, Paulo disse que queria a demissão porque não suportava mais trabalhar na empresa. Explicou ao patrão, um homem até gentil e atencioso, e que odiava repetir uma ordem, o que tanto lhe afligia:
            - Estou sem forças para continuar, sinto-me oprimido, desestimulado, fraco, sem motivação alguma para essa empresa.
            Todos os dias chego aqui desanimado porque todos os dias faço a mesma coisa, meu salário não muda nunca. Trabalho, trabalho e trabalho... E a única coisa que aumenta são as ordens: faça aquilo, quando terminar isso, faça aquilo outro. Pode ficar até mais tarde hoje e amanhã, trabalhar no sábado e vim no domingo até meio dia, pode? Preciso disso pra ontem, daquilo pra anteontem! Ainda não terminou? Paulo, venha aqui, vá à empresa tal, passe nesse endereço, pegue a encomenda, não demore, pois há muito trabalho atrasado que deve ser entregue o quando antes!
            Não, não e não, não quero mais isso, estou farto de ter que fazer tudo, realizar trabalhos que não são meus, de resolver problemas que não arranjei, chega! Minha esposa não me vê mais e nem eu a ela. Chego à noite por causa das horas extras e ela já está dormindo. Saio de manhã, ou melhor, noite ainda e ela ainda dorme. Meu filho está crescendo e eu não estou vendo. Basta! Isso tem que parar! Estou me transformando num robô!
            O patrão ouviu atentamente e propôs que Paulo tirasse umas férias, no fim do ano, pois havia uma entrega muito importante e a empresa precisava dele.
            - Você... Você... Só pode estar brincando...
            E riu-se... Riu, riu e riu descontrolavelmente.
            - Acho melhor você ir pra casa hoje mais cedo e repensar. Descanse um pouco, amanha conversaremos melhor, você parece não estar muito bem, Paulo. Vá, o Antônio cobre você.
            Paulo não conseguia parar de rir. Seu patrão não sabia o que fazer, as risadas já eram ouvidas praticamente por todos da empresa. Ate que o patrão decidiu pedir ajuda, ligou para a ambulância, porque Paulo parecia ter enlouquecido.
            A equipe médica chegou e Paulo ainda ria, estava roxo de tanto rir. Colocaram uma camisa de foca nele e ele nem resistiu e continuava a rir desesperadamente. Aplicaram-lhe uma injeção tranqüilizante e depois de alguns minutos ele apagou. Levaram-no para o hospital, na sala de psiquiatria. Paulo dormiu.
            Acordou dois dias depois, olhou para os lados, não reconhecia nada. Olhou para o relógio. Estava atrasado para o trabalho...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O que é o mundo ao nosso redor e além do que podemos ver?
O universo é mesmo infinito? E se o for, o que guardaria além?
Qual é a força que nos contém dentro de nós e não nos enlouquece em pensar no que existe pela imensidão invisível a nossos limitados olhos?
O que nos pulsa a nos contentar com o vazio das respostas que não existem?
Qual a preciosidade dos acontecimentos da vida que nos mantêm vivos e precisamente ignorantes a respeito dela mesma?
O que nos leva a chorar e a sorrir, sendo que não conhecemos o bastante para tal preceito?
O que sabemos do amor, que sequer imaginamos a origem?
O que sabemos da vida, do mundo, do além, nessa armadura mortal?

terça-feira, 3 de maio de 2011

O que fará o homem que já ouviu até aqui,
Todas as músicas que procurou,
Assistiu a todos os filmes,
Não leu todos os livros do mundo,
Mas garantiu grande parte de sua busca?

O que é novo não mais desperta interessante,
Sua busca estancou,
Não mais sorri com facilidade
Apenas ensaia uma pequena contração  
No canto da boca.

Seria o fim de seus sabores,
O cessar de sua trajetória,
Ou apenas desistência?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O que traz a chuva que lá fora cai
Se quando ela toca meu semblante nada sinto?
O vento que despenteia meus cabelos
É o mesmo que destrói os castelos de areia
O sol que arde à minha pele
É o mesmo que toca os lugares longínquos do universo
Essa mente delirante
É a mesma que cá põe essas loucas palavras
É a mesma que se sensibiliza em lamúrias
Eu sou o mesmo que sorri
O mesmo que fala e saboreia as dúvidas da vida
O mesmo que hesita
O mesmo que sente
Simplesmente o mesmo...

terça-feira, 29 de março de 2011

Queria fugir dessa realidade mútua,
Olhar para o horizonte e enxergar além,
Flutuar entre as nuvens, atravessando seus flocos,
Perpassando suavemente pelo seu corpo.
Voar entre as árvores, deliciar-me com o néctar das flores.

Queria molhar meu peito num voo rasante no plano das águas dos rios,
Mergulhar profundamente no mais fundo dos oceanos
E deslizar entre os abismos dos mares.

Subir, subir, subir volátil, atravessando todas as esferas do planeta
E contemplar o silêncio obscuro do espaço,
Assistir em lágrimas o espetáculo azul que se derrama no globo encantador.

Mas a realidade, essa realidade insana,
Ensurdecedora que trafega pela minha mente,
Não supre a carência de me refugiar de mim.
Sinto seu monstruoso abraço sufocando meu peito.
Essa força incalculável da sua devastação,
Não me permite me perder em meus delírios,
Aos quais me jogo louco sem hesitar.



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

             A quais palavras exatamente devo debandar meus pensamentos para realçar o sentimento tão íngreme contido em meu peito?
            Tantas são as dúvidas, mas simplifico aqui minha busca num transparente cair de emoções para justificar minha ignorância perante o que existe dentro do coração. Entro, portanto, em contradição e me rendo ao caos das explicações que tanto busco. Reconheço as minhas imperfeições e tombo diante a barreira da dúvida e da demasiada frustração de não saber onde estão as escritas precisas para denominar tamanha falta de compreensão daquilo que sente um coração que ama.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Silêncio

          As palavras me faltam quando as tanto preciso. É tanto para se dizer, muitas falas, várias palavras, mas não me vêm à mente, não invadem meus lábios. Nada, simplesmente um vazio ensurdecedor.
            Não há o que explicar, não há o que lamentar, não tem para onde gritar porque não sei o que dizer. Apenas ofereço meu vazio, a minha total derrota para o silêncio.
http://www.youtube.com/watch?v=ERTmvOll87s 


Vídeo com Rolando Boldrin declamando um texto que fala um pouco da política. Vale a pena ver, é emocionante.
     Existe a possibilidade de contratar um candidato que seja capaz mesmo de mudar o quadro político atual? Que tomará a frente, frente a essa demanda de gente honesta, um que não se escore na corja que habita o selvagem congresso nacional?
     Tanto o brasileiro almeja ver um candidato que elegeu, que é quase impossível reencontrá-lo. Deve ser por isso que Brasília fica tão longe das capitais! Talvez uma estratégia de fuga...
Durante toda a propaganda política o discurso mantém o mesmo trajeto, a mesmice que a multidão ouve todo ano político.
     Ah! Quem dera o povo ter voz, ter sua vez. Ultimamente o brasileiro só fala, e reclama, e reclama, e fala. Quantos assistem à propaganda obrigatória? Mas porque é obrigatória? O país não é democrático? O povo não deveria ser obrigado a votar, mas aí quem votaria?
     O fato é que neste país as coisas dão certo se houver interesse da elite. Durante a campanha política, tudo funciona tudo fica mais fácil, mais acessível. O problema é quando acaba... Volta a ser o Brasil.
     Mas falar mal do país não muda, não resolve, isso é fazer o que fazem aqueles falantes, debatedores e “inteligentes”.
     O país só vai mudar quando o povo começar a gritar pelos seus interesses, suas verdades, for à luta.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011


E quando o dia amanhecer?
                E quando a hora chegar?
                               E quando tiver que voltar?
                                               E quando tiver que partir?
                                                               E quando acabar?
                                                                              E quando começar?
                                                                                              E quando se for?
                                                                                                              E quando aparecer
                                                                                                                             E quando esquecer?
                                                                                                                                    E quando lembrar?
                E quando acontecer?
                               E quando acabar?
                                               E quando falar?
                                                               E quando ouvir?
                                                                              E quando perguntar?
                                                                                              E quando responder?
                                                                                                              E quando souber?
                                                                                                                             E quando errar?
                                                                                                                             E quando chegar o fim?
                                                                                                                                                             Quando?
Eis a vida.

 


Hoje é o dia


Hoje é o dia de iniciar algo diferente
De ser irresponsável
Dia de estar no trabalho ausente

Hoje é o dia de tomar banho de chuva
Dia de cortar os cabelos
 De desenhar sobre a pele
Falar bobagem aos berros
De quebrar alguns copos

Hoje é o dia
O dia de não obedecer
De ver o céu azul
De comer tudo o que é gostoso
De tomar sol nu

Hoje é o dia certo
Dia de extrapolar
Faltar à aula, faltar à missa
Não ir ao encontro marcado
Dia de ser exagerado

Dia de caminhar sem rumo
Conhecer o desconhecido
Não ler jornal nem livro
De apreciar o mundo

Dia de dar um abraço em quem você gosta
De começar a caminhar
De organizar seu quarto
Dia de tirar um tempo pra você

Hoje é o dia de mandar flores
De andar descalço
Dançar na chuva
Dia de vencer seus medos
Dia de sair andando sem rumo
E não ter segredos

Ah!... Hoje, hoje é o dia marcado
Dia esperado
Tido e aclamado
Dia de entrar no mar
De não mais temer
Dia de arriscar

Hoje, exatamente hoje, não ontem
Não amanhã, mas hoje, hoje é o grande dia
De não ter vergonha de sorrir
De falar o que tanto precisa
Dia de amar
Dia da natureza
De não ter certeza
Dia de errar

Dia de correr atrás dos sonhos
E sonhar sem duvidar

Hoje, hoje é o seu dia!
De fazer tudo o que queria
Simplesmente porque hoje
 Hoje é o dia!


Enquanto focava seus pensamentos, ao seu redor algo mudava, tudo estava em mutação. O mundo estava se despedaçando. Explosões, terremotos, incêndios, nevascas, temporais. A lua se despedaçava, o sol esvaía-se, as estrelas, uma a uma, estouravam e a escuridão prevalecia em tudo. Ainda ele pensava, via tanta beleza num rosto que prendia por completo toda sua atenção e o mundo não mais importava se ela não o olhasse de volta.