terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Ainda o horizonte...

Ainda o horizonte...

O horizonte tem um quadro cronológico.
Não é fixo, não é igual,
Sequer é lógico.
Admirando esse visual
Há um certo prazer que não se atinge;
Há algo inacabado,
Mas não é naquele mapa dissipado
Que transita na minha cabeça.
Existe um não sei que dentro de mim
Que emociona-se sem fim,
Não cessa as páginas
Inacaba-se transformado em lágrimas.

A satisfação enfurecida,
Atrás dos olhos está enjaulada.
Em infinitas manifestações ousadas,
Da alma - que flamejada -
Se doa ao vento
Em direção ao centro
De todas as emoções
E de inacabáveis frustrações.


Valdomiro Maria

Sobre algum sentido

Sobre algum sentido

É observar o céu
Olhar para um ponto fixo
Transferir para lá
Toda a eficácia de sentir
É tentar inverter a necessidade
De explosão
De dentro do peito
Porque o prazer de sentir
Torna-se quase que insuportável
Um sufoco intermitente, visceral, insano
Há maneiras de senti-lo
Das quais o corpo não desfaz
Insiste em expelir
E clama para estar-se
Apoderado dele.


Valdomiro Maria

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Em luta...

Em luta...

Este ser incapaz de sentir a estática do amor
Caminha a passos apressados
Em direção nenhuma
Anda desorientado, negando e querendo.
Parando em pontos estrategicamente
Aferidos pelo coração
Em voltas a tentar não se envolver.

Mas essa coisa indestrutível
Vai dissolvendo a fortaleza
Posta no peito em blindá-lo.
E, então, parece não existir resistência,
Parece que tudo está atacando
As grades forjadas.
E a luta é inútil,
Não há o que se fazer...
Mais uma vez o coração
Ultrapassado, desalinhado, descontrolado...
Desiste.
Eis que vence o sentimento fazedor de poetas.

Valdomiro Maria


Enquanto olho

Enquanto olho

Existe uma obscuridade no céu que vejo,
Ali onde deposito lágrimas de lembrança.
É uma vontade do tamanho do vazio
Que me entra na alma:
Retornar.

Voltar no tempo para reativar alegrias
Que somente agora eu sinto.
Não sei por qual motivo
Um grande aperto me deturpa,
Fere profundamente as partes mais sensíveis
De mim.

Momentos impostos por essa ilusão
De que alcançarei um supremo desejo
Em viver outra época que não essa.
Um estágio de sentimento
Almejado toda vez que meus olhos
Tocam os céus de minhas recordações.


Valdomiro Maria

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Olhos perdidos

Olhos perdidos

Então a necessidade se refaz
Percorrendo vias intangíveis.
Eu, na moldura oscilante,
Permaneço.
Vibrando numa frequência inalcançável...
E tudo ao meu redor rui.

Ando sem direção,
Sem saída,
Sem sentir,
Apenas ando...

Triste de ficar estático,
Rumo ao difuso,
Porém sujo de um não sei quê de ódio,
Sentimentos confusos
Contrastando com o horizonte,
Sumo aos olhos que me observam.

Tenho à frente um luar.
A noite é minha ajudante,
Mas me castiga sem questionar...
Trago seus ares negros.
Expiro desejos incontroláveis.

A volta é triunfante:
Olhar para trás me dói,
Tendo no peito um abismo de emoções,
Respiro fundo e me vou.

Mas que caminho seguir?
Sem direção, eu volto.
Permaneço novamente em busca de mim:
Onde estou.
Quando estou.
Quem sou.
O que fazer.
Para onde vou...
Simplesmente lhe tenho nos olhos...


Valdomiro Maria

Olhar fixo no horizonte

Olhar fixo no horizonte

Quando cessa o sonho,
Vem a necessidade de expelir
Toda forma de sentir, de se ter apreço.
Não há o que esperar da inércia.
 Da forma de sentir, de manter o desejo,
De sufocar o momento insuficientemente sem ternura.

Olhar para o lado e notar as formas,
Como são as coisas, profundamente no horizonte:
É ver um ponto de saída,
Voar em direção e prender-se
Devoto a qualquer motivo para sentir alívio

Isso tudo escapa-se no instante
Em que nada parece real
Porque a realidade é mortalmente insuportável
Aos corações sonhadores de vida.


Valdomiro Maria

Transe

Transe

Quando pensou em voltar,
percebeu que para onde quer que fosse
não conseguiria fugir a si próprio.

sua alegria,
e a via se esvair como água
por entre os dedos.

suas emoções confundiam-se,
tudo começou a girar enlouquecidamente
em sua cabeça.

o tempo, a paisagem, o seu redor,
tudo misturava-se
num carrossel de cores translucidas...

sentou-se perplexo,
sem entender o que estava acontecendo...
fechou os olhos...


Valdomiro Maria

Sobre a Luz

Sobre a luz

Falemos da luz:
Dessa mágica inviolável, impenetrável,
Sensual, afável;
Entre o que a conduz
E o que se deduz,
Penetra ela viva
Movimentando objetos mórbidos,
Lugares sórdidos.

Ela inunda qualquer ambiente,
Viaja anos-luz através da escuridão,
Explode no chão
Em nossa visão.
A luz que rasteja dos faróis das estrelas
Dos cascalhos refletores de seu brilho
Dos ladrilhos...
Diamantes brilhantes.
Incandesce por entre as folhas das árvores
Das pedras reluzentes dos mármores
Dá vida a tudo que é treva, sombra, lares...

Essa luz és tu,
Que saboreia o brilho nos meus olhos
Quando vejo luz nos seus lábios seu rosto moldar
E em mim essa loucura de causar.


 Valdomiro Maria

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Papel em branco

Papel em branco

O branco do papel me possibilita pensar
Com os olhos conectados
No meio-fio do azul hipnótico
Deste céu fazedor de poetas, de apaixonados.

A imaginação flutua
Na fonte escura
De onde brilha a exposição do além...

Tudo me é disponível,
Possível, invisível...
Puxo pelas mãos as teias que envolvem:
Lua e estrela
Nuvem e sol,
E vou rabiscando o pedaço de papel,
Mas ainda branco
Como agora o céu.

O desejo de voar, atravessando tudo.
A velocidade estoura minha visão;
E o que vejo esvai, desmancha-se.


Valdomiro Maria

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Em ondas de choque

Em ondas de choque


Em ondas de choque
Perfurantes,
Vêm as lembranças
Causas algumas de sofisticação...
Apenas um sentimento agudo

Vontade de lá estar só mais um pouco,
Reviver, segundos que fosse,
Um detalhe em queda livre,
Na memória

 O passado traz não apenas suspiros demorados;
Traz uma dor infinita -  por um instante,
Capaz de liberar lampejos insuportáveis de saudade.

A volta é inatingível, não há o que se fazer...
Apenas lembrar...
Relembrar...
Saborear um devaneio instantâneo
Que me coloca de frente para uma realidade infinita:
Possibilidade infundada
No entanto, amavelmente palpável.

Valdomiro Maria

quinta-feira, 1 de junho de 2017

O irreal

Dentro de um quadro melhor
Situa-me um estranhamento:
Veemente totalizado fim
Para compreender um algo:
O irreal.

É estranho pensar
É estranho tatear essa membrana,
Esses esquecimentos suspirosos
De uma alegria finda,
Incrustada na malha perdida
Da noite partida.

Abro os olhos,
O meu redor é negro
Lá, perdida no fundo, um bico de luz...
Semblante fixo, pensamento alado.
Desisto...
Volto à clareza dos olhos cerrados,
Remonto meu horizonte:
Agora tenho um Norte.

O lago reluz um brilho incalculável
Cores e sons invadem o cenário.
Há um pequeno declínio no canto do lábio,
Uma imagem desfigurada
A meio-fio aparece,
Algo acontece:
Uma espécie de torpor instala-se.
Mas sou minúsculo, não me há forças,
Corro e caio
Levanto-me, saio.
A distância é enorme
Sinto, agora, a chuva,
Cada gota penetra-me a pele
Estou no deserto
Procuro aquela imagem, ela é outra.
Sufoco-me sedento, sangro, afogo-me.
E então, estou, novamente,
Preso à realidade de sonhos irreais.

Valdomiro Maria

quinta-feira, 6 de abril de 2017

A beleza do instante

A beleza do instante (Valdomiro Maria)

Silêncio... tudo estático...
E radiante reaparece o sol
Num alento colorido na forma de ser
Um isso minucioso,
De repente estoura,
É a noite orvalhada que escorre
Por entre o tom do brilho efervescente
Nos olhos divididos
Por ora despidos de sonhos, cravejados das incertezas.

Mas a luz,
A luz que aos poucos se turva,
Exala um perfume: é a pureza,
O timbre indizível,
Algo que só se encontra no coração liberto das mazelas do mundo.

A beleza então se faz mútua,
Cada pedaço de sonho e desejo,
Nesse instante, é palpável, possível, sólido...
A beleza do instante,
A hora mágica,

O momento de toda uma vida: a aurora do noite-dia!